Concretismo e Romantismo - Parte 2

Epithalamium, de Pedro Xisto


Primeiramente temos a obra Epithalamium, concebida por Pedro Xisto. Essa obra apresenta diversas visões a serem analisadas, uma característica típica do Concretismo. Para esclarecer, “Epithalamium” significa em latim “canto nupcial”.
Uma de suas análises é o jogo de palavras, em inglês, feito pelo autor: “He” é o ele/homem; e “She” é ela/mulher. Com isso, cria-se o debate de quem é superior a quem.
A outra análise comentada é a questão do Criacionismo. Percebe-se a colocação do “h” (Homem/Adão) e do “e” (Eva/Mulher) separados pelo “s” (Serpente/Mal), instaurando-se a perspectiva da separação do homem e da mulher pelo mal, na forma da serpente, uma visão Bíblica da Criação do Mundo.

Caso queiram saber mais sobre essa obra, acesse “Discussão sobre 'Epithalamium' de Pedro Xisto”, site que debate essas questões acima.

-------------x-----------------x-----------------x----------------

Abaixo, é apresentado um vídeo de duração de 6:36, retirado do YouTube, apresentando cinco poemas do Concretismo com ”efeitos visuais e sonoros”, característica marcante dos textos da época.


Adaptação para o audiovisual dos poemas concretos "Cinco" (de José Lino Grunewald, 1964), "Velocidade" (de Ronald Azeredo, 1957), "Cidade" (de Augusto de Campos, 1963), "Pêndulo" (de E.M. de Melo e Castro, 1961/62) e "O Organismo" (de Décio Pignatari, 1960). Direção: Christian Caselli.

Concretismo e Romantismo - Parte 1

Texto de Décio Pignatari ilustrando o Concretismo

O Concretismo é baseado na transgressão e na união entra a forma e o conteúdo na obra. Há também outras características marcantes desse período como uma ênfase na racionalidade, no raciocínio e na ciência, o uso de “efeitos gráficos”, aproximando a poesia da linguagem do design, e o envolvimento com temas sociais a partir da década de 1960. Entre os maiores concretistas, estão Pedro Xisto, Décio Pignatari, Chacal e Ferreira Gullar.
O Infinito, Pedro Xisto (1901-1987)

Olhando de maneira superficial, o Concretismo é o “retrato” do Romantismo no aspecto da inovação/transgressão - só que em outra época. Um dos aspectos em comum é a “racionalidade misturada com a imaginação”.
No Romantismo, os artistas passavam para a obra um determinado momento e fazia, com o uso de "exageros", que o “espectador” refletisse e tirasse suas próprias conclusões. Essa é a mesma concepção do Concretismo, porém nessa época já havia o uso de mecanismos tecnológicos, como os protótipos de computadores e efeitos gráficos.

Poema "Liberdade" de Fernando Pessoa

Fernando Pessoa (1888-1935)

Liberdade

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

                                                              (PESSOA, Fernando)

Liberdade de Expressão na Música Brasileira

Chico Buarque


A Música Brasileira Crítica possui “origem” na Ditadura Militar. A partir das repressões, indivíduos gostavam de “expor” suas ideias. Porém (como era uma ditadura) havia censura. Muitos “ídolos” como Chico Buarque, Gilberto Gil e Caetano Veloso sofreram da censura “mais cruel”: o exílio.
Muitas músicas hoje são conhecidas por causa dessa audácia, atrevimento dos compositores/cantores, como "Cálice" de Chico Buarque São essas críticas que em certos momentos nos fazem refletir sobre o que realmente acontece. Esses cidadãos que “ousaram”, foram vistos como revolucionários e até mesmo como “solucionadores dos problemas”.
Os artistas românticos, em muitos casos, foram questionados sobre suas obras pelas suas “ousadias”/transgressões. Ela é uma das principais características desse período de mudanças de mentalidade, outra semelhança com a época da Ditadura no Brasil.
Outros autores lançaram suas críticas aos governos e governantes de hoje em dia, como a banda de rock Titãs com a música “Vossa Excelência”.
Seguem abaixo duas músicas que contém críticas à censura e aos governantes, respectivamente:

OBSERVAÇÃO: A MÚSICA “VOSSA EXCELÊNCIA” DOS TITÃS POSSUE PALAVRAS “OFENSIVAS E POLITICAMENTE INCORRETAS”!

Cálice - Chico Buarque



Vossa Excelência - Titãs

R³ = Rock, Raul e Romantismo

Raul Seixas (1945-1989)

O Rock foi “criado” no fim da década de 1940, início de 1950, como “música de repressão” e com ritmo “rápido, dançável e pegajoso” nos EUA. Chegou ao Brasil nessa mesma época, desenvolvendo-se com a Jovem Guarda, Mutantes e Raul Seixas.
E o que isso se assemelha ao Romantismo?
A principal semelhança é a “Liberdade de Expressão”. Nas músicas brasileiras, por exemplo, muitas das “críticas” são consequências da mentalidade local. Os artistas românticos também possuíam essa visão de querer mostrar sua opinião, fato que caracterizou vários artistas.
Raul Seixas foi um dos principais cantores/compositores do Brasil. Nasceu em 1945 e morreu em 1989, vítima de uma parada cardíaca. Muitas de suas músicas possuem caráter crítico, como “Aluga-se” e “Cowboy Fora da Lei”.
Na música abaixo, “Sociedade Alternativa” de Raul Seixas, ele “cria e divulga” uma nova visão do mundo, a Sociedade Alternativa. Ela é descrita por Raul como uma sociedade baseada numa única Lei: “Faze o que tu queres, há de ser tudo da Lei”. Isso mostra a sua audácia, sua ousadia perante o mundo em que vive.


"Erupção do Vesúvio" de William Turner

William Turner (1775-1851), Erupção do Vesúvio
De mesmo autor da obra “Naufrágio”, “Erupção do Vesúvio” traz consigo os mesmos ideais, ou seja, a caracterização da natureza como papel principal da obra. A posição do Monte na pintura individualiza a natureza no centro de tudo.
Nota-se como a natureza, através do Monte Vesúvio, mostra-se imponente sobre os indivíduos na praia, cujos tamanhos são quase “desprezíveis”. A força do vulcão nos é apresentada mediante o “jogo de cores” que Turner faz, expondo o céu como escuro, tenebroso, e o Vesúvio em erupção numa cor clara, que nos faz imaginar a proporção desse fato.

Liberdade de Expressão em "Naufrágio" de William Turner

William Turner (1775-1851), Naufrágio

          As obras românticas têm a sua liberdade de expressão como uma das "marcas" mais importantes. Essa expressão é dada através do plano principal da obra. Em comparação com outros estilos de época, o Romantismo é o que traz a natureza como o plano principal, e não plano de fundo, como anteriormente.
         Na obra de William Turner "Naufrágio", percebe-se a impotência do homem sobre a natureza. Outro fator que determina essa nova mentalidade de expor no quadro os “sentimentos” são as características dessa natureza, isto é, o “turbilhão emocional” representado nas obras é o que define todo o momento.
          As cores que o autor utiliza, fazendo um “jogo” de como está o ambiente naquele momento. Nota-se também que as pessoas da pintura não possuem rostos caracterizados, passando a ideia de que a natureza é superior às pessoas.
          As ondas, a tempestade e as expressões das pessoas (vistas  através das posições de seus corpos) caracterizam esse momento como sombrio, onde o preto representa o medo e a idealização da morte.


Análise da obra de Francisco de Goya "Três de Maio de 1808"

Francisco de Goya (1746-1828), Três de Maio de 1808

Outra obra romântica muito conhecida é o quadro de Francisco de Goya, Três de Maio de 1808, que retrata um acontecimento histórico real: após Napoleão e suas tropas invadirem a Espanha, parte do povo de Madri revoltada é executada pelo pelotão de fuzilamento francês.
Nota-se nessa obra a liberdade de expressão e de criação de Goya, que projeta um fundo escuro, em contraste a luminosidade da cena principal, obtendo assim uma cena de horror dramática e expressiva. À direita, o pelotão sincronizado preparando para atirar, enquanto que na esquerda, as vítimas, ou seja, os espanhóis.
Pode-se destacar desse quadro de Goya, o homem de braços abertos vestido de branco e amarelo no meio da pintura. Percebe-se que Francisco de Goya faz uma comparação desse homem, que tem papel de mártir, com Jesus Cristo (os braços abertos formando uma cruz). Outro aspecto desse mesmo homem é a sua estatura elevada, cujas proporções são claramente percebidas (ele, de joelhos, é de tamanho aproximado dos atiradores e dos outros componentes na pintura).

Análise do conceito histórico do Romantismo

Eugene Delacroix (1798-1863), A Liberdade Guiando o Povo Francês



    A época em que surgiu o romantismo foi um período bastante conturbado  com diversas  mudanças no panorama do mundo ocidental. No quadro de Euguene Delacroix, “A Liberdade Guiando o Povo Francês”, pode-se ver a alteração na mentalidade da população que passa a combate o antigo regime, a burguesia que até então buscava ganhar espaço no poder político expressa no movimento romântico sua vontade e interesse.
Na pintura citada acima, encontramos alguns elementos interessantes. Os personagens não podem ser inseridos num grupo homogêneo: todos estão lutando pela mesma causa, porém não perdem sua individualidade, apesar deles serem diferentes, e ao mesmo tempo, querem ter essa liberdade. Na obra, vemos burgueses, camponeses e marinheiros, todos lutando contra a tirania exercida pelo monarca.
Os movimentos revolucionários românticos transgrediam os regimes vigentes, porém apresentam uma abordagem diferente quanto comparado aos do neoclassicismo, pois nele é exaltado o sentimento de nacionalismo (que é uma manifestação de individualidade). A busca pela liberdade de expressão é tal que se chega ao ponto de serem adicionadas as composições alguns aspectos folclóricos e históricos que exaltam o povo local e pedem a mudança em uma determinada nação (estabelecendo uma ideia antagônica aos teóricos do neoclassicismo que afirmavam que o liberalismo deveria atingir os países de uma forma geral e não individual).
O Romantismo teve um papel fundamental em movimentos políticos desde a Unificação Alemã até a Guerra do Paraguai (onde incentivou o abolicionismo). Pode-se ver então que esse “movimento” não teve apenas um papel artístico, atingindo outros campos e mudando a noção de Nação e Individuo no mundo Pós-Moderno.

Introdução

O Romantismo foi um movimento político, econômico e social da burguesia permanente ao longo do tempo, apresentando algumas harmonias com o que vivemos hoje. Esse estilo de época tem como uma de suas principais características a transgressão e a liberdade de expressão e criação presente em pinturas, textos, músicas, dentre outros.
O individualismo principalmente presente no estilo romântico foi contraria a mentalidade do estilo precedente que alterou a ideia de coletividade e inseriu noções de sentimentalismo nas expressões artísticas do período.
Durante o período romântico, grandes nomes como Victor Hugo, considerado por vários críticos como o primeiro autor que expôs as dores de seu tempo e as traduz em gritos de liberdade. Hugo inaugurou esse modelo de “inspiração”. No Brasil, José de Alencar representou o modelo de vida das mulheres (e seus sofrimentos), introduzindo assim uma nova mentalidade.
Na luta contra a racionalidade, o artista romântico valoriza a imaginação, a fantasia etc. Ele parte pra idealização criando um universo original, independente, no qual ele expõe suas aspirações de liberdade. O artista se ‘recusa’ a usar um conjunto de regras pré-estabelecido e opta pela originalidade. A emoção supera a razão na determinação das ações das personagens românticas. O amor, o ódio, a amizade o respeito e a honra são valores sempre presentes. A natureza serve de inspiração para o poeta que possui total liberdade para criar um cenário todo especial.
Há tempos não muito distantes (década de 1980), artistas como Cazuza, Tim Maia, Mamonas Assassinas e Raul Seixas tiveram, de certa forma essa mesma “liberdade”. Ela foi dada através de suas músicas que muitas vezes foram consideradas “politicamente incorretas”.