Poema "Liberdade" de Fernando Pessoa

Fernando Pessoa (1888-1935)

Liberdade

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

                                                              (PESSOA, Fernando)


     O Poema acima mostra a liberdade em diversas formas. A liberdade mostrada vem através da temática do poema e da métrica empregada.
     O tema dele, como diz o título, retrata a visão da liberdade do autor em atos não considerados "normais", fugindo de sua obrigação, como nos versos 2, 3 e 4 ("Não cumprir um dever, / Ter 0um livro para ler / E não o fazer!".
     Já a métrica utilizada é irregular, ou seja, possui os versos com números diferentes de sílabas métricas. Essa característica é chamada de "versos livres", muito utilizadas no Modernismo.

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